segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Caravana de Lula será pré-campanha de Dilma (Josias de Souza)


Em privado, Lula diz que a “caravana” que fará nos próximos meses será “parte da pré-campanha” pela reeleição de Dilma Rousseff. “Ela não pode fazer campanha, mas eu posso”, afirma, referindo-se às limitações legais de sua afilhada política.







O morubixaba do PT conta que percorrerá o país “articulado” com Dilma. Já conversou com ela a respeito. Pediu-lhe que não dê ouvidos à “conversa fiada” segundo a qual ele poderia ser, de novo, candidato ao Planalto. “Não existe essa hipótese”, enfatizou na semana passada a petistas que o visitaram.







Lula diz que é preciso respeitar a “simbologia” da política. Acha que, se abandonasse Dilma, deixaria de fazer sentido. “Então eu escolho uma mulher, ela faz um bom governo e eu a atropelo? Não vou fazer isso”. Lula realça que a pupila está bem-posta nas pesquisas.







Mais: como que empenhado em esvaziar o balão de ensaio insuflado pelo pedaço do PT que sonha com seu retorno, Lula soa categórico: mais adiante, diz ele, “mesmo se a Dilma não estiver tão bem, eu vou me abraçar com ela.”







Há cinco dias, Lula livrou-se do último resquício do tratamento do câncer na laringe. Foi liberado pela fonoaudióloga. Diverte-se ao discorrer sobre o uso que pretende fazer da voz nos deslocamentos da propalada caravana.







“Vou falar um bocado de besteira”, diz Lula, entre risos. Acha que os antagonistas do PT, à frente o tucanato, morderão a isca. “Vão brigar comigo e esquecerão a Dilma.”







Escorando-se na sua decantada intuição, Lula antevê o compartamento da oposição: uma parte dirá que Dilma é mais sóbria que o mentor. Outra parte dirá que o criador quer tomar o lugar da criatura. Num caso ou noutro, Dilma lucrará com a superexposição.







Lula vai prepara o flerte com os refletores num instante em que Dilma enfrenta uma conjunção de dois elementos venenosos: PIB em baixa e inflação em alta. Até onde a vista alcança, o governo está acuado. Na outra ponta, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), potenciais adversários de Dilma, estão assanhados.











domingo, 10 de fevereiro de 2013

Corrida presidencial de 2014 começa com quatro nomes no páreo


FERNANDO RODRIGUES

DE BRASÍLIA



Faltam cerca de 20 meses para a eleição presidencial de 2014. Esse prazo dilatado impede vislumbrar cenários futuros com precisão, mas a presidente Dilma Rousseff já passou da metade do mandato e o Congresso acaba de escolher seus novos dirigentes.



A partir de agora, só um assunto dominará a política: quem serão os candidatos na corrida pelo Planalto.



Há quatro nomes mais evidentes e com o bloco na rua. Dilma quer concorrer à reeleição. O senador mineiro Aécio Neves é até o momento a principal aposta do maior partido de oposição, o PSDB. Na corrente da renovação da política, Marina Silva está prestes a lançar sua própria legenda e pretende disputar o Planalto. Por fim, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, também está hoje dentro do jogo.



O campo das especulações também é vasto. O ex-presidente Lula é sempre citado por uma facção paulista do PT ""embora ele já tenha declarado que não pretende disputar cargos em 2014.



Pelo menos outros dois nomes aparecem na bolsa de apostas com alguma frequência. Um deles é o do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. O outro é o do ex-deputado federal Fernando Gabeira, que é filiado ao Partido Verde. Não está claro se ambos estarão na disputa presidencial.



Desde o fim da ditadura militar (1964-85), o Brasil já teve seis eleições presidenciais diretas. A menos imprevisível até agora foi a reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 98. Ele sempre foi o favorito e ganhou.



Já a reeleição de Lula (PT), em 2006, demorou um pouco mais para se consolidar. Em 2005 foi o ano do mensalão e havia dúvidas sobre as chances de vitória do petista.



Nas outras disputas, os cenários estavam muito incertos a 20 meses do dia da eleição ""como hoje. Em fevereiro ou março de 88, Fernando Collor nem aparecia entre os possíveis candidatos, mas ele foi eleito em 89. Em 93, o favorito era Lula, mas quem venceu em 94 foi FHC.



Mesmo faltando 20 meses até a eleição e com a imprevisibilidade natural em torno do cenário da sucessão, há alguns fatores vitais que são conhecidos na definição dos nomes para 2014.



Três são os mais relevantes, não necessariamente nessa ordem: o estado geral da economia, a popularidade de Dilma e a capacidade de cada postulante ao Planalto de fazer amplas alianças partidárias.



No caso da economia e da popularidade presidencial, há um mistério ainda não bem explicado. O desempenho do Brasil não tem sido bom, mas Dilma permanece bem avaliada. Uma resposta para o aparente paradoxo é que o nível de emprego continua alto. Mas ninguém se arrisca a dizer quanto tempo esse cenário persistirá.



No caso das alianças, o PT conseguiu em 2010 montar a mais ampla coalizão formal desde o final da ditadura. Dilma Rousseff foi apoiada oficialmente por dez partidos.



Esse arco de legendas hoje parece um pouco menos propenso a marchar com o PT em 2014. O PSB, com Eduardo Campos, pode ser o primeiro a sair. E o PMDB, o maior de todos, é constantemente assediado por outros projetos de poder.



No comando da Câmara e do Senado pelos próximos dois anos, o PMDB deve aumentar seu apetite por cargos. Ao mesmo tempo, Dilma terá de acomodar as demais siglas. A habilidade da presidente para satisfazer a fisiologia de seus aliados determinará o tamanho de sua coalizão eleitoral em 2014.

FOLHA

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Alckmin indica que não será estorvo para Aécio (Josias de Souza)

Quem ensina é Guimarães Rosa: mineiro espia, escuta, indaga, protela, tolera, remancheia, perrengueia, sorri, escapole, se retarda, faz véspera, tempera, matuta, engambela, pauteia, se prepara… Parece até um estudo sobre a candidatura presidencial de Aécio Neves. Mas o senador tucano ensaia o abandono das sinuosidades.



Em visita a São Paulo, Aécio teve com Geraldo Alckmin uma conversa pouco mineira, franca. Disse-lhe que, como governador do maior e mais rico Estado do país, tem precedência na fila dos presidenciáveis. E perguntou: você é candidato? Alckmin reiterou que disputará em 2014 a reeleição ao governo paulista. E sinalizou que não deseja tornar-se estorvo.



Aécio já havia inquirido Alckmin sobre a Presidência da República em março do ano passado, num almoço servido no apartamento de Fernando Henrique Cardoso. O governador soara no mesmo tom. Se é assim, disse o senador ao governador na última quarta-feira, chegou a hora de o tucanato mostrar unidade.



Antes de conversar com Alckmin, Aécio estivera, na noite da véspera, com FHC, seu principal esteio dentro do partido. Depois do encontro com o governador, avistou-se com José Serra, seu maior enigma. De volta a Brasília, Aécio deu sinais de tê-lo decifrado. Moveu-se para acomodar o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), unha e cutícula com Serra, na liderança do PSDB no Senado.



Aécio se equipa para assumir o controle formal do PSDB em maio, quando a legenda renovará sua direção. Reserva para Minas a presidência do partido, a ser exercida por ele próprio ou por alguém que indicar. E acerta com Alckmin a entrega da secretaria-geral, segunda poltrona mais importante na engrenagem partidária, a um paulista. Se o café com leite não azedar, o tucanato talvez supere sua fase de ‘Guerra dos Emboabas’ antes da chegada do segundo semestre.